Quando uma pessoa muda o seu modo
de pensar e agir, ela começa a perceber também uma mudança na maneira como as
outras pessoas a veem. Na verdade existe
uma convenção, ainda que velada, nas relações interpessoais onde cada um recebe
um script a ser rigorosamente
seguido. Já disseram que a vida é um
grande palco teatral onde as pessoas representam papéis bem definidos pela
sociedade, pelos espaços sociais ou comunitários, pelo ambiente familiar nos
quais estão inseridos e participam efetivamente etc. Geralmente, nessas
relações, não há espaço para improvisações.
O roteiro predefinido deve ser seguido invariavelmente. Qualquer mudança
na “fala” de um dos componentes desse grande elenco pode fazer desandar a
“apresentação teatral”. Isto, porque no palco da vida, diferentemente das
literais peças teatrais, os seus atores não estão devidamente preparados para
lidarem com os improvisos, com o imprevisível, com o diferente, com a mudança
no script.
Por isso, quando uma pessoa
resolve deixar de representar papéis que ela mesma não escreveu, quando ela
deixa de ser “dirigida” por forças externas que a condicionam a não ser ela
mesma, é praticamente inevitável que ela se depare com resistências, com
conflitos e até mesmo, sentimentos de medo e insegurança que obstam e visam
manter a “ordem natural das coisas”. Isto quer dizer que além das resistências
naturalmente encontradas no outro, seu maior desafio consiste em transpor as
suas próprias barreiras interiores.
Cabe a cada um decidir ser;
resolver viver; renunciar a falsa paz, a falsa harmonia; dar lugar a
intermediação do “desassossego” da alma, da turbulência das emoções que
desembocam na serenidade da coerência e da verdade, na harmonia de ser, no
verdadeiro sentido da vida, no reconhecimento da própria identidade, no
descobrimento de que a verdadeira felicidade não está no “mundo do faz de
conta”, mas no real encontro consigo mesmo.
Viver sem posicionar-se, sem poder dizer o que pensa e sente não é
viver. É estar impedido de ser; é
impedir a si mesmo de viver.
Quando uma pessoa resolve ser ela
mesma posicionando-se de forma autêntica diante de si mesma e do seu
interlocutor, essa provocará neste, provavelmente, sentimentos e atitudes
imediatas de inadequação àquela nova realidade e de rejeição. Nesse caso, o “eu” verdadeiro que estava
oculto pelas razões mais diversas, surge como um intruso, como uma variável
inconveniente. Na verdade, muita gente
não sabe como reagir diante do inesperado, do improvável, do script alterado. No entanto, o desconforto óbvio gerado no
outro não ocorre em si mesmo, muito pelo contrário, apesar das sensações
preliminares de medo e insegurança, o desvelamento do eu traz a reboque uma
inconfundível sensação de bem estar, uma inigualável certeza de que valeu a
pena.
Para muitas pessoas esse não é um
caminho fácil de percorrer. De fato, não
é. Mas, é um caminho inevitável ao
crescimento. Esta é uma rota difícil, mas necessária. Não há desvios, não há atalhos, não há
“jeitinhos”. No entanto, não é preciso
percorrer este caminho sozinho. Uma ajuda externa pode ser fundamental, ser
facilitadora para dar suporte e apoio nas crises oriundas das novas descobertas
e das possíveis inadequações as novas realidades. Um acompanhamento
psicoterapêutico é essencial nesse processo de mudanças radicais e
indispensáveis.